Estado é responsável por cerca de 50% da produção de mel no país, região noroeste registra aumento nas vendas durante pandemia.
Apicultor Ricardo Sanches colhendo mel. Fonte: Arquivo Pessoal
Quando se fala em abelha muita gente já imagina uma ferroada doída e tem vontade de sair correndo para longe do lugar em que elas estão. O pavor por esses insetos realmente existe entre os brasileiros, que tem medo de uma espécie tão importante para o ambiente. As abelhas são responsáveis por polinizar 73% dos vegetais no mundo. São elas que fazem os frutos, flores e plantas crescerem através do compartilhamento do polén.
Além de ser um inseto importante para a natureza, as abelhas também aquecem em grande parte o mercado de agronegócio. Segundo o Rankind de Apicultura o Brasil ocupa a 9ª posição como produtor de mel, produz entre 20.000 e 49.000 mil toneladas por ano (BNB, 2017).
O Estado de São Paulo é responsável por cerca de 50% dessa produção no Brasil e a estimativa é de que o setor cresca cerca de 80% no território paulista (UNASP).
Na região noroeste do Estado a cadeia produtiva do mel é uma importante atividade na geração de renda e emprego para apicultores e agricultores, que contribuem para o desenvolvimento social e econômico da região.
Para o apicultor e comerciante Ricardo Sanches Santana, o ramo de apicultura é muito promissor na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Ele diz que muitos trabalhadores sobrevivem dessa atividade, que “existem milhares de pessoas que vivem da renda dos produtos das abelhas, nessa atividade não se perde nada tudo é aproveitado” afirma.
Ricardo tem grande conhecimento no ramo porque acompanha o processo completo, até mesmo “coloca a mão na massa”, desde a criação de abelhas, produção de mel e vendas para o consumidor final.
Apicultor e comerciante Ricardo processando mel. Fonte: arquivo Pessoal
Além de ter uma loja que vende “muitos produtos de abelhas” como mel, propólis, geleia, cera e acessórios para apicultura, Ricardo também cuida de seus apiários em fazendas nas cidades de São José do Rio Preto, Nova Granada, Onda Verde, Guapiaçu e Mirassolândia.
Segundo o apicultor essa atividade, que hoje envolve toda a família, começou como um hobbye do pai e com o aumento das colmeias virou uma atividade comercial. “Meu pai cria abelhas desde 1980 e eu já ajudo ele a 25 anos” diz Ricardo.
Atuamente, o apicultor possui cerca de 500 colmeias de abelhas apis melifera, conhecidas popularmente como europeia ou abelha europa. Essas abelhas são caracterizadas por produzir um mel de excelente qualidade, com propriedades medicinais.
Para que essa produção de mel seja boa e aproveitada, é preciso ter cuidados e trabalhar com as colmeias durante o ano todo. “A colheita do mel aqui na nossa região começa em agosto e vai até novembro, mais se um apicultor quiser ter uma grande colheita ele precisa de cuidados desde quando acaba a safra e vai se preparando para a próxima”.
E esse cuidado e preparação envolvem muitas questões, principalmente ambientais. As colônias das Abelhas Europeias são formadas por uma abelha rainha, cerca de 10 mil abelhas operárias e entre 500 e 1.500 zangões. A abelha fêmea são as que possuem ferrão. No interior do ninho, as abelhas operárias são responsáveis por usar cera para construir os favos onde guardam o mel e pólen para se alimentarem. A abelha rainha é muito importante para manter uma boa produção de mel, ela é responsável por colocar ovos, cerca de 3 mil por dia. Como só se pode ter uma rainha em cada colmeia, quando alguns desses ovos se convertem em rainhas, acontece uma disputa entre elas, a abelha vencedora expulsa ou mata as abelhas perdedoras. Pode parecer estranho, mas a manutenção do ambiente das abelhas rainha é fundamental para o funcionamento do processo de mel, segundo a Secretaria de Agricultura (2015) a manutenção de rainhas jovens e de boa origem nas colônias pode aumentar a produtividade em até 60%.
Além disso, é necessários cuidados diários como “limpeza do apiário, alimentação das colmeias no período de escassez de néctar, troca de rainha quando colmeia não produziu na safra”, entre outros, afirma o apicultor.
Abelhas produzindo mel na colmeia. Fonte: Arquivo pessoal.
Esse processo de produção se tornou mais intenso durante a pandemia. O atual cenário da covid-19 diminuiu o andamento e lucro de várias atividades, porém na apicultura o cenário foi inverso. Segundo Ricardo a produção de mel se expandiu, as vendas em sua loja aumentaram e se manteram aquecidas até mesmo nesse momento de crise. “Com a pandemia as pessoas procuraram muitos produtos das abelhas (mel, própolis e geleia real), por se tratar de alimentos saudáveis e com intenção de aumentar a imunidade. Com isso as vendas até aumentaram” afirma o apicultor e comerciante.
Ricardo afirma que é apaixonado pela atividade que exerce, que vive essa experiência de forma intensa e que em questões econômicas a “perspectiva é sempre animada”.
COVID-19 e o aumento das vendas de mel
O aumento de vendas na loja do Ricardo e em muitos outros estabelecimentos que comercializam produtos vindos de abelhas têm um explicação: o atual cenário da covid-19 causou uma certa necessidade nas pessoas em buscarem alimentos que aumentem a imunidade, para se prevenir não somento do coronavírus mas de outras gripes e doenças.
Produtos da loja do comerciante e apicultor Ricardo. Fonte: Arquivo Pessoal
A aposentada Janda Lourenço e seu esposo, também aposentado, Benedito Lourenço, estão entre os clientes e consumidores desses produtos. Segundo Janda Lourenço antes mesmo da pandemia o mel já fazia parte da sua dieta, mas com o surgimento do coronavírus o uso se tornou diário. “Eu resolvi comer pelo menos uma colher de mel e uma colher de própolis todos os dias pela manhã, desde pequena eu ouvia dizer que ele aumenta a imunidade. Não custa se prevenir durante essa pandemia”. O aposentado Benedito Lourenço resolveu acompanhar a esposa e também consumir esse alimento, já que “o mel é bem gostoso, o dia já começa adoçado. Decidi comer uma colherzinha durante o café da manhã também, mas acabamos nem perguntando para um médico se realmente funciona, mal não deve fazer” comenta Benedito.
Segundo a terapeuta nutricional Nathália Racanicchi, o mel contém antioxidantes que realmente aumentam a imunidade, melhora a saúde gastrointestinal e o colesterol, porém é necessário ter alguns cuidados. “Muitas pessoas começaram a buscar alguns alimentos para o aumento da imunidade após o aparecimento do COVID-19, mas apenas isso não é o necessário para ter um aumento significativo na imunidade. Temos que pensar em um todo: se a pessoa dorme bem, tem uma boa alimentação, pratica atividade física, entre outras coisas”.
Além disso, como todos os alimentos, o excesso de consumo pode ser um vilão para a saúde, “o excesso de mel pode aumentar o nível de açúcar no sangue” afirma a terapeuta nutricional.
Existe uma quantidade recomendada, que por sinal, a Janda e o Benedito seguem de forma correta, que é a medida de uma colher de sopa por dia, cerca de 25 gramas. De acordo com Nathália Racanicchi “pode consumir junto com a fruta e o iogurte, por exemplo.”
Por: Isadora Becker