Válvulas cardíacas dão uma nova chance para os corações com doenças valvares e proporcionam um novo recomeço para os pacientes.
Considerado um dos órgãos mais importantes do corpo humano, o coração possui um importante papel no organismo, distribuir sangue para todo o corpo. Assim, é preciso que esse órgão trabalhe de forma equilibrada o tempo inteiro, caso isso não ocorra, o indivíduo pode sofrer com a falta de suprimento sanguíneo.
Essa situação ocorreu com a Maria Aparecida Araújo (85), que descobriu há 15 anos que tinha uma doença valvar chamada Estenose Aórtica Valvar, um estreitamento da válvula que impede o fluxo sanguíneo do ventrículo esquerdo para a aorta. O diagnóstico foi feito após Maria decidir ir ao cardiologista devido a dores no peito e fadiga ao subir as escadas de casa. “Eu não podia subir nem 4 lances de escada que a falta de ar já vinha. De primeira, eu pensei que era algum problema respiratório, mas o médico não achou nada até que fui no cardiologista”, conta a paciente.
Doença valvar cardíaca ocorre quando as válvulas do coração - tricúspide, mitral, pulmonar e aórtica - não funcionam direito impedindo o bombeamento equilibrado de sangue para as áreas do corpo humano.
A cardiologista Juliana Silveira Cunha relata que muitas vezes os pacientes não apresentam sintomatologia em casos mais graves da doença, sendo uma das causas de morte súbita e insuficiência cardíaca. No entanto, os sintomas mais comuns são: dor no peito, falta de ar, tosse com escarro e inchaço nos pés e tornozelos.
A médica ainda informa que o diagnóstico é feito por meio de alguns exames, como a auscultação do coração, pois um dos primeiros sinais de doença valvar é o som irregular dos batimentos cardíacos. Além disso, a doença pode ser confirmada com a ecocardiografia - para analisar o coração e as válvulas - e também a ecocardiografia Doppler, que verifica a circulação sanguínea. Alguns outros exames também podem ser solicitados: o ECG, angiografia coronária e MRI do coração.
No que se refere ao tratamento, o Chefe da Equipe de Cirurgia Cardíaca do IMC (Instituto de Moléstias Cardiovasculares) e HMC (Hospital do Coração), Dr° Roberto Vito Ardito, explica que o tratamento das doenças valvares é cirúrgico e se dá por meio da troca da válvula.
Essa válvula podem ser de dois tipos: válvulas biológicas (tecido animal) e válvulas mecânicas (liga de metal). As válvulas biológicas são feitas a partir de pericárdio bovino - a mais utilizada - ou válvula de porco e são mais indicadas para pacientes acima dos 60 anos, pois nesse tipo de procedimento não é necessário o uso de anticoagulantes. Esse tipo de medicamento poderia ser um fator agravante para a saúde do paciente devido a idade. Além disso, pelo metabolismo de cálcio do idoso funcionar em menor intensidade, a válvula toleraria mais tempo no corpo, tendo menor fadiga material.
Já as válvulas mecânicas são reservadas para pacientes mais jovens, pois é necessário fazer o uso de anticoagulante por um longo tempo. “Tomar o anticoagulante não é o problema, os pacientes vivem muito bem com esse tipo de válvula.”, reforça o Ardito.
O médico ainda reforça que a escolha é feita a partir de situações técnicas e que não há uma regra restrita para fazer a definição do tipo de válvula. Tudo depende do estado clínico do paciente. Algumas vezes, dependo do caso, o paciente pode até fazer a escolha do tipo de válvula que deseja implantar.
Em relação a implantação da válvula biológica feita a partir do pericárdio bovino, é possível fazer dois tipos de cirurgia: a cirurgia com circulação sanguínea extracorpórea de peito aberto ou a TAVI. Nesse caso, Dr° Ardito afirma que apenas o cirurgião poderá decidir qual é a melhor opção para o paciente e que traz maiores chances de uma rápida recuperação. Essa decisão é feita a partir da análise da saúde do paciente e a presença de comorbidades.
A cirurgia com circulação sanguínea extracorpórea de peito aberto é feita no centro cirúrgico e dura aproximadamente uma manhã inteira para ser realizada. “Há muitos procedimentos que precisam ser feitos para a implantação da nova válvula”, acrescenta Dr° Ardito.
A TAVI não é feita no centro cirúrgico e sim no setor de hemodinâmica do hospital. A implantação da válvula é feita a partir de um cateter que acessa o coração por meio da artéria localizada na virilha. O procedimento é rápido e indicado para pessoas que estão com doença valvar em estágio grave que não poderia passar por uma cirurgia mais invasiva ou que já possui um implante valvar e precisa realizar a troca. Em ambas as cirurgias, a recuperação é rápida, porém o paciente fica alguns dias na UTI.
Mesmo que o tratamento para as doenças valvares seja a cirurgia, Dr° Ardito explica que as válvulas biológica sempre precisam ser trocadas mais de uma vezes devido à fadiga do material. Essa fadiga é dada por meio da deposição de cálcio na válvula pelo organismo. “O nosso organismo, quando quando percebe que há alguma coisa de errado ou um objeto estranho, coloca cálcio para tentar recuperar. É uma atitude metabólica.”, acrescenta o profissional. Porém, não existe a possibilidade de rejeição dessa válvula como os órgãos transplantados.
O médico ainda ressalta a importância de um diagnóstico rápido para que o paciente se recupere de forma mais fácil.
Foto: Reprodução
Por: Camila Moraes Camilo