Pessoas que morreram por coronavírus não podem ser doadores, assim como pacientes que se recuperaram a menos de 28 dias.
Com a pandemia do novo coronavírus, muitos setores da saúde pública vêm sofrendo os impactos da doença. Um deles é o setor de transplantes, uma vez que pessoas que morrem por Covid-19 não podem ser doadores de órgãos.
A maioria dos hospitais está evitando a cirurgia para não sobrecarregar ainda mais os leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
De acordo com o Ministério da Saúde, existem mais de 37 mil pacientes na fila de espera por transporte de órgãos no Brasil. “Há aproximadamente quatro anos fui diagnosticado como insuficiente renal crônico e desde então me encontro na fila de transplante”, afirma Erick Fernandes, auxiliar administrativo.
A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) informou que, devido à pandemia, as doações caíram 12% e os transplantes 17%.
“Começamos o ano de 2020 com um aumento importante das doações e transplantes nos meses de janeiro e fevereiro, no entanto em março coincidindo com o início da pandemia pela Covid-19 no Brasil ocorreu uma diminuição da doação de órgãos e transplantes no nosso país”, afirma José Huygens Garcia, presidente da ABTO.
Pessoas que morreram por coronavírus não podem ser doadoras, assim como pacientes que se recuperaram da doença nos últimos 28 dias, os hospitais seguem protocolos rígidos antes de qualquer procedimento, incluindo o teste para Covid-19.
Segundo o médico hepatologista Renato Hidalgo, chefe de uma equipe de captação de órgãos em todo o país, a taxa de mortalidade de pacientes na fila de espera por um fígado subiu de 35% para 39%, ou seja, quatro em cada dez pacientes morrem na espera.
“É uma questão complexa e posso dizer multifacetada, porque primeiro com o aumento da necessidade de UTI, esses pacientes que estão contaminados com Covid, sobra menos leitos para que você consiga fazer transplante porque o transplante requer um leito de UTI, a outra face desse problema é que como você tem muitos leitos ocupados por esses doentes, você diminui os pacientes que porventura poderiam se tornar doadores de órgãos”, explica Renato.
O médico ainda afirma que os critérios de escolha de prioridade para o paciente na fila não mudaram, mas que em alguns casos esses pacientes podem esperar um pouco mais.
“Cada órgão tem uma particularidade, no caso do fígado, por exemplo, a fila ela é ordenada por gravidade da doença então os mais graves transplantam órgão antes, então esses órgãos que têm uma fila cronológica vão fazer com que aumente-se muito a espera do paciente em lista”, explica o médico.
A fila de espera para transplante de córnea no estado de São Paulo tem quase três mil pacientes, a cirurgia que antes era realizada em, no máximo, seis meses pode aumentar a espera para cinco anos.
“Geralmente, tem mais que 400 doações no mês e agora a gente está com uma base de menos de 20, então, atualmente no Brasil, o que está sendo realizado os transplantes de urgência, ou seja, os transplantes que se não forem feitos a pessoa pode ter uma perda visual permanente, inclusive” afirma Aline Moriyama, diretora médica do Banco de Olhos de Sorocaba (SP).
Por Vanessa Alves
Imagem: Jornal Diário Corumbaense